quarta-feira, 2 de junho de 2010

Após reunião de 12 horas, ONU lamenta perda de vidas e condena atos, sem condenar Israel


O Conselho de Segurança da ONU lamentou a perda de vidas e os ferimentos causados a outras pessoas durante a operação militar israelense contra uma frota humanitária junto à costa de Gaza. Em declaração conjunta, os membros do Conselho de Segurança condenaram os atos de Israel, mas não o Governo israelense.

Após doze horas de intensas negociações, a sessão do Conselho terminou com o pedido de "uma investigação rápida, imparcial e transparente" sobre o incidente desta segunda-feira (31), enquanto afirmou que a situação de Gaza é "insustentável" e ressaltou que a única solução possível para o conflito palestino-israelense é o diálogo.

A declaração foi lida pelo presidente rotativo do Conselho e embaixador do México, Claude Heller, que disse que o organismo decidiu "pedir a imediata libertação dos navios e dos civis retidos por Israel".

O Conselho começou suas reuniões na segunda-feira (31) por volta das 14h de Brasília, a pedido da Turquia e do Líbano, país que o presidia até a 0h de 31 de maio, quando o México assumiu o comando para o mês de junho.

"É uma declaração aprovada pelo Conselho durante uma sessão formal, e é um pronunciamento em termos taxativos e contundentes" sobre o incidente, disse Heller ao término da reunião.

O mexicano ressaltou que na declaração aprovada "há uma condenação dos atos de força e reiteramos a importância de que Israel liberte os detidos e devolva os navios a seus donos, além da entrega da ajuda humanitária ao povo palestino".

A declaração aprovada pelos quinze membros vinculou o incidente com as negociações de paz do Oriente Médio e com a situação de Gaza, que é qualificada como "insustentável".

Segundo a agência Reuters, diplomatas teriam dito que a palavra "independente" foi retirada logo nos primeiros rascunhos da declaração, nos quais Israel estaria impedido de realizar as investigações. Por insistência dos EUA, o termo foi retirado. Alejandro Wolff, embaixador-adjunto dos EUA frente ao Conselho, afirmou que "apoia uma investigação israelense e confia que Israel possa conduzi-la de forma credível, imparcial e transparente, conforme as normas internacionais".

Em declarações individuais anteriores à reunião, os 15 membros do Conselho condenaram o ataque. "Está mais claro do que nunca que as restrições de Israel a Gaza precisam ser abordada conforme a resolução 1860", disse o representante do Reino Unido, Mark Lyall Grant. Ele afirma que o bloqueio atual é "inaceitável e contraproducente".

França, Rússia e China -- que também são membros permanentes do Conselho -- também pediram a suspensão do bloqueio e uma investigação do ataque.

Os EUA não defenderam a suspensão do embargo, porém pediu para que ele seja aliviado. "Vamos continuar pedindo diariamente a Israel que amplie a gama de bens e suprimentos enviados a Faixa de Gaza para atender às necessidades da população", disse o americano Wolff.

Segundo a representante brasileira no Conselho, Maria Luiza Ribeiro, o Brasil recebeu a notícia "com pesar" e defendeu a necessidade de suspender o embargo "pois ele viola o direito internacional".

O ministro de Negócios Estrangeiros turco, Ahmet Davutoglu, atacou Israel diretamente. "É um assassinato cometido por um Estado". Os navios saíram da Turquia levando ajuda humanitária a Gaza. "Um Estado que cometeu esses crimes perde toda a legitimidade na comunidade internacional".

O outro lado
O representante de Israel, Daniel Carmo, afirmou que não há crise humanitária em Gaza. "Embora a mídia os apresente como uma missão humanitária para levar ajuda a Gaza, esta frota não era nada humanitária”, disse ele. "Eles usaram cinicamente uma plataforma humanitária para enviar uma mensagem de ódio e implantar a violência"., afirmou Carmo.

Segundo fontes disseram a agência de notícias France Presse, a reunião do Conselho de Segurança se estendeu por causa da disputa entre EUA e Turquia, que debateram cada determinação. Segundo diplomatas, enquanto a Turquia defendia a condenação de Israel, os EUA tentavam amenizar.

Detidos
O ministro israelense de Segurança Interna, Yitzhak Aharonovitch,disse que a maioria dos detidos será liberada para partir assim que passarem por um processo de exames e interrogatório que dura cerca de meia hora. As exceções seriam os supostos de estarem envolvidos em violência, que devem ser processados.

"Eles vão passar por um exame médico, uma investigação, interrogatório, e depois, quem quiser deixar Israel. pode ir para o aeroporto [de Tel Aviv]" disse ele à TV local.

O Exército de Israel atacou na madrugada desta segunda-feira um comboio de barcos organizado pela ONG Free Gaza, um grupo de seis navios, liderados por uma embarcação turca, que transportava mais de 750 pessoas e 10 mil toneladas de ajuda humanitária para a faixa de Gaza, deixando ao menos dez mortos e cerca de 30 feridos.

Entenda o ataque

A Marinha de Israel atacou nesta segunda-feira uma frota de seis embarcações com ativistas pró-palestinos que tentavam furar o bloqueio à faixa de Gaza e entregar suprimentos à região.

Segundo a TV israelense, no mínimo 19 pessoas teriam morrido na ação. Em entrevista à rádio do Exército, o ministro da Indústria e Comércio de Israel, Binyamin Ben-Eliezer, disse lamentar as mortes. Mas um porta-voz militar de Israel afirmou mais tarde que as mortes pelo ataque chegam a 9.

Segundo ativistas, os barcos estavam em águas internacionais, a mais de 60 quilômetros da costa.

Os barcos, organizados pela ONG Free Gaza, levavam 750 ativistas e cerca de 10 mil toneladas de suprimentos para a faixa de Gaza.

Imagens da TV turca feitas a bordo do barco turco que liderava a frota mostram soldados israelenses lutando para controlar os passageiros.

As imagens mostram algumas pessoas, aparentemente feridas, deitadas no chão. O som de tiros pode ser ouvido.

A TV árabe Al-Jazeera relatou, da mesma embarcação, que as forças da Marinha israelense haviam disparado e abordado o barco, ferindo o capitão.

A transmissão das imagens pela Al-Jazeera foi encerrada com uma voz gritando em hebraico: "Todo mundo cale a boca!".

A frota de seis embarcações havia deixado as águas internacionais próximo à costa do Chipre no domingo (30) e pretendia chegar a Gaza nesta segunda-feira (31).

Israel havia dito que bloquearia a passagem dos barcos e classificou a campanha de "uma provocação com o intuito de deslegitimar Israel".

O porta-voz do Exército israelense, general Avi Benayahu, afirmou que o ataque contra a frota humanitária pró-palestina aconteceu em águas internacionais.

"O comando agiu em alto mar entre 4h30 e 5h, horário local, a uma distância de 70 a 80 milhas (130 a 150 km) de nossa costa", afirmou o general à rádio pública.

* Com informações da EFE e das agências internacionais

Fonte: UOL Internacional

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