sábado, 6 de agosto de 2011

Pensar no sacerdote é pensar em alguém frágil

Não foi difícil para os discípulos, que estavam no meio do povo e que escutavam a cada momento os comentários sobre a Pessoa de Jesus, dar uma resposta: alguns afirmavam que Cristo era Jeremias; outros que era Elias; para outros Ele era Moisés; e para outros, algum dos profetas.
Mas, lendo o Evangelho com maior atenção, podemos perceber que havia quem considerasse Jesus um bom “aproveitador da vida”, a ponto de ser definido como “comilão e beberrão”, e para outros, ainda uma autêntica encarnação do diabo – motivo pelo qual expulsava os demônios com a força do mesmo príncipe dos demônios, segundo eles. Quem sabe a mais clara manifestação do sofrimento de Jesus seja dada pela Sua mesma confissão: “Nenhum profeta é aceito na sua pátria, e vocês me podem dizer: médico, cura-te a ti mesmo”. A Pessoa de Jesus se coloca na nossa frente como modelo de todo o agir para qualquer um, mas especialmente para os sacerdotes.
Pensar no sacerdote é pensar em alguém frágil, pecador, carregado de tantos defeitos e limitações, mas que, um dia, não só por sua decisão própria de querer seguir o Cristo, mas por vontade da mesma Igreja que discerniu a sua vocação por meio de tantos anos de caminhada, foi “consagrado sacerdote”. Quer dizer, foi chamado e considerado apto para ser no mundo uma presença viva de Jesus, um “outro Cristo” e recebeu como missão fazer de sua vida uma transparência de amor e revestir todos os seus atos de carinho, de perdão e de misericórdia em favor de todos os que necessitam de Jesus.
Nenhum padre poderá esquecer o dia em que se prostrou diante do altar e foi, pelo ministério episcopal, ordenado sacerdote, quando publicamente assumiu continuar a memória de Jesus pela celebração do Mistério Eucarístico. A ele foi dada a mesma ordem que o Cristo deu naquela noite da Última Ceia: “Fazei isto em minha memória”.
O sacerdote não se ordena a si mesmo, não chama a si mesmo, não escolhe a si mesmo, mas é chamado e escolhido. E toda escolha não é outra realidade senão um gesto de amor que não tem explicação humana, é um ato de amor que só o amor pode explicar.
Ser sacerdote é ter a consciência de que um dia fomos chamados do meio do povo, consagrados e devolvidos ao serviço do povo. Agir na Pessoa de Cristo exige constante esforço de se despir de todos os pecados e limitações para que a beleza e a grandeza de Jesus possa resplandecer em toda a sua luz.
Quem és tu, sacerdote? Alguém que, um dia, pela graça de Deus, foste chamado a seguir os passos de Jesus, foste seduzido pelo serviço apostólico, profético, percebeste que o anúncio do Evangelho era o teu único desejo, de servir o povo no desinteresse e na caridade era o teu sonho, que se colocar na escuta do grito de tantos irmãos esmagados, sofridos pela injustiça e pelo pecado era o teu único desejo, e por isso aceitaste com alegria ser “sacerdote”, deixando atrás de ti sonhos humanos, desejos.
Não te apavore se nestes últimos tempos, por todos os lados, tentam deformar, denegrir, sujar a imagem do sacerdócio. Em tempo de crise devemos viver com maior intensidade os valores da vida sacerdotal. A consagração sacerdotal não elimina a sedução do pecado nem nos vacina contra as tentações que experimentamos no dia a dia.
Nenhuma falta de um irmão poderá romper e destruir a beleza do sacerdócio. O coração de Jesus é tão grande que compreende todos os pecados e perdoa todas as faltas, é na misericórdia e no amor que se reconstroem as vidas. O ouro nunca deixará de se encontrar debaixo da terra, mas sempre ele terá o seu brilho.

Frei Patrício Sciadini

Leigos (as): discípulos(as) missionários(as)

"Os cristãos leigos são homens e mulheres da Igreja no coração do mundo, homens e mulheres do mundo no coração da Igreja” (DA 210.).
João Paulo II dizia-nos “a Evangelização do Continente não pode realizar-se hoje sem a colaboração dos fiéis leigos” (EAM 44).
Celebraremos em todas as comunidades agosto como mês das vocações. A primeira semana é dedicada à vocação sacerdotal, a segunda à família, a terceira aos religiosos(as), a quarta semana  aos cristãos leigos e leigas. Será um momento especial de ação de graças por muito trabalho realizado e proposta  a todos para que sejam discípulos missionários.
O Documento de Aparecida retoma e reafirma as posições do Concílio Vaticano II de que os leigos são membros efetivos do povo de Deus e são Igreja. Duas são as dimensões da vocação laical. Primeiramente, os leigos são chamados a exercer diversas ações na comunidade eclesial e em diferentes formas de apostolado. Devem dar seu testemunho de vida e assumir diversos ministérios e serviços na evangelização, na catequese, na animação de comunidades, na liturgia, dentre outros (Cf. DA 211). A outra dimensão é a de atuar no mundo, “a vinha do Senhor”, com a tarefa de ser fermento, sal e luz seja pelo testemunho seja pela ação transformadora na construção da sociedade justa e solidária, conforme os critérios evangélicos. Essa missão específica deve ser vivenciada pelos leigos na política, na realidade social, na economia, nos meios de comunicação, nos sindicatos, no mundo do trabalho urbano e rural, na cultura, na família e em tantas outras realidades (Cf EN 70 e DA 210).
Para realizar sua missão, com competência e responsabilidade, os leigos “necessitam de sólida formação doutrinal, pastoral, espiritual e adequado acompanhamento para darem testemunho de Jesus Cristo e dos valores do Reino na vida social, econômica, política e cultural” (DA 212).
O protagonismo dos leigos está presente na caminhada da Igreja por itermédio de todos os seus fiéis e de suas lideranças que promovem e levam à frente a tarefa da evangelização sempre em união com seus pastores.
Para contribuir nesse processo a CNBB possui uma Comissão Episcopal para o Laicato que tem como função, na Igreja do Brasil, promover a vocação e missão, formação e espiritualidade dos leigos, bem como sua organização e atuação na Igreja e na sociedade. Fazem parte da Comissão Episcopal do Laicato os Setores Leigos, Juventude,  CEBs, CNLB (Conselho Nacional dos leigos do Brasil) e todos os movimentos eclesiais. A Comissão tem relação de comunhão com o CNLB - Conselho Nacional do Laicato do Brasil e com os Movimentos e Associações Laicais. O CNLB congrega os Conselhos Regionais, movimentos, associações laicais, pastorais e outros organismos de leigos. Os CNLBs regionais e diocesanos são importantes, pois articulam os leigos em toda a tarefa da evangelização. São expressões vivas e dinâmicas da presença e da força dos leigos nas comunidades.
Ao celebrar as vocações dos cristãos leigos e leigas queremos expressar nossa mais profunda gratidão por tantos homens e mulheres que, vivendo sua fé, testemunham seu amor a Jesus Cristo e à Igreja, na dedicação de seu tempo a serviço dos demais irmãos. Deus abençoe tantas iniciativas de transformação social e presença evangelizadora nas comunidades, paróquias, dioceses e na sociedade. O Documento de Aparecida, ao apresentar a vocação dos leigos (n. 210), afirma “os fiéis leigos e leigas, discípulos e missionários, são luz do mundo”. Sim, discípulos missionários. Sempre aprendendo como discípulos e missionários porque comunicando o amor de Deus aos irmãos para construir juntos um mundo mais justo e fraterno.
Vamos agradecer a Deus a tantos leigos e leigas, catequistas, dizimistas, lideranças que estão em nossas pastorais, nos organismos, nos movimentos, nas CEBs, nas pastorais da juventude e nos movimentos juvenis construindo o Reino de Deus e buscando uma nova sociedade. Sempre precisamos de “muitos leigos e leigas no coração do mundo e muitas leigas e leigos  no coração da Igreja”.

Dom José Luiz Bertanha
Bispo de Registro - SP