terça-feira, 31 de maio de 2011

Hoje é a Festa da Visitação de Nossa Senhora

Sabemos que Nossa Senhora foi visitada pelo Arcanjo Gabriel com esta mensagem de amor, com esta proposta de fazer dela a mãe do nosso Salvador. E ela aceitou. E aceitar Jesus é estar aberto a aceitar o outro. O anjo também comunicou a ela que sua parenta - Santa Isabel - já estava grávida. Aí encontramos o testemunho da Santíssima Virgem - no Evangelho de São Lucas no capitulo 1, - quando depois de andar cerca de 100 km ela encontrou-se com Isabel.
Nesta festa, também vamos descobrindo a raiz da nossa devoção a Maria. Ela cantou o Magnificat, glorificando a Deus. Em certa altura ela reconheceu sua pequenez, e a razão pela qual devemos ter essa devoção, que passa de século a século.

“Porque olhou para sua pobre serva, por isso, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações.” (Lucas 1,48)

A Palavra de Deus nos convida a proclamarmos bem-aventurada aquela que, por aceitar Jesus, também se abriu à necessidade do outro. É impossível dizer que se ama a Deus, se não se ama o outro. A visitação de Maria a sua prima nos convoca a essa caridade ativa. A essa fé que se opera pelo amor. Amor que o outro tanto precisa.

Quem será que precisa de nós?

Peçamos a Virgem Maria que interceda por nós junto a Jesus, para que sejamos cada vez mais sensíveis à dor do outro. Mas que a nossa sensibilidade não fique no sentimentalismo, mas se concretize através da caridade.

Virgem Maria, Mãe da visitação, rogai por nós!

Terça-Feira, 31 de Maio de 2011 - Visitação de Nossa Senhora

Evangelho (Lucas 1,39-56)




— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.

— Glória a vós, Senhor.


39Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.

42Com um grande grito exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre!” 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.

46Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o temem.

51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.

- Palavra da Salvação.

- Glória a vós, Senhor.

As razões da esperança

O mundo em que vivemos, muitas vezes chamado de aldeia global pela diversidade de culturas que convivem com a proximidade oferecida pelos meios de comunicação, traz consigo o desafio da tolerância nas relações humanas e, ao mesmo tempo, a possibilidade de nos manifestarmos legitimamente, a fim de que tudo o que nos é próprio se transforme em dom a ser compartilhado.

Constata-se que o Cristianismo é hoje alvo de repetidas investidas, com as quais é questionado em seus princípios e orientações morais. Num tempo em que as espécies animais, as árvores e as águas são valorizadas como nunca – e com razão! – ser a favor da vida desde a concepção até a morte natural é considerado conservadorismo! As chamadas questões de gênero encontram artilharia pronta para mirar a Igreja e os cristãos, a ponto de os conceitos oriundos da Sagrada Escritura não poderem ser oferecidos para a formação das consciências. É possível que o relato da criação que afirma ter Deus criado homem e mulher seja censurado por aí! Um rolo compressor pretende calar a voz da pregação corajosa do Evangelho, quando personalidades da Igreja se levantam para denunciar o tráfico de pessoas e de drogas. Em nossa região, chega-se ao ponto de personalidades eclesiásticas necessitarem de esquemas especiais de segurança para exercerem o direito de ir e vir.

Como ser cristão num ambiente paganizado? O primeiro passo é a certeza nascida da escolha de Deus, no seguimento de Jesus Cristo, não se envergonhando d'Ele nem de Seu Evangelho. A coerência com as opções feitas conduz ao respeito nas relações interpessoais. Já ouvi, de algumas pessoas, a manifestação de apreço aos cristãos que, mesmo debaixo de saraivadas de acusações, se mantêm firmes. Depois, a verdade vem a ser oferecida e não imposta, acreditando na voz da consciência, muitas vezes abafada, mas sempre presente, por meio da qual o Espírito Santo suscita em todas as pessoas a busca do bem. Em algum momento as pessoas se sentirão provocadas pela força da retidão! Além disso, respeitar as opções dos outros não significa obrigatoriamente apoiá-las. Ninguém pode nos obrigar a assinar um manifesto a favor do erro patente, cujos frutos se fazem imediatamente notar!

E por falar em frutos, não é difícil notar a quantidade de crianças, adolescentes e jovens sem referências familiares sólidas, como resultado de algumas gerações até estimuladas ao divórcio. Vale continuar, de nossa parte, a fazer propaganda da família estável, dos filhos considerados dom de Deus, do relacionamento entre homem e mulher vivido segundo a lei de Deus. Retrógados? Tradicionais? Antes, corajosos, sem medo de pôr à disposição nosso modo de viver e entender a existência humana.

Mas as incompreensões são inevitáveis. Com o Apóstolo São Pedro, podemos tomar posição: "Quem é que vos fará mal, se vos esforçais por fazer o bem? Mais que isso, se tiverdes que sofrer por causa da justiça, felizes de vós! Não tenhais medo de suas intimidações, nem vos deixeis perturbar. Antes, declarai santo, em vossos corações, o Senhor Jesus Cristo e estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência. Então, se em alguma coisa fordes difamados, ficarão com vergonha aqueles que ultrajam o vosso bom procedimento em Cristo. Pois será melhor sofrer praticando o bem, se tal for a vontade de Deus, do que praticando o mal. De fato, também Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus. Sofreu a morte, na existência humana, mas recebeu nova vida no Espírito" (I Pd 3, 15-18).

Para dar razões da esperança que em nós existe, é preciso não fugir da convivência com o que é diferente. Antes, com a necessária formação, aprender a dialogar, escutando as motivações das outras pessoas. O respeito mútuo fará vir à tona os verdadeiros valores. Aos cristãos caberá estar atentos ao que existe de mais humano, o mistério mais profundo da consciência.
Pode também acontecer que a brecha aberta pelo próprio Deus nos corações seja o mistério da dor. Por ela só pode passar o amor gratuito, livre, que ilumina todos os espaços. Muitas pessoas, aguerridas em suas batalhas verbais, escondem angústias terríveis, para as quais não há resposta senão no mistério de Cristo morto e ressuscitado, o Senhor em quem acreditamos. Ele é o melhor e definitivo presente que podemos oferecer a todos. O Espírito da verdade, prometido por Jesus, nos dê, também na atual geração, a necessária lucidez para o testemunho corajoso do Evangelho.

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA