domingo, 22 de agosto de 2010

O dever do descanso

É pecar contra a lei de Deus não descansar!
O grande Santo Agostinho, visualizando a experiência do Paraíso, disse que na eternidade haverá louvor, oração, amor e descanso (“laudabimus, orabimus, amabimus, vacabimus”). Feitos para glorificar a Deus, no louvor e na oração, desde já nos realizamos como pessoas. E cantar, ensina o mesmo santo, é próprio de quem ama. Quem louva, reza e ama a Deus e ao próximo é feliz. E daí encontra as condições para o adequado descanso. Para os cristãos, o dia do Senhor, chamado Domingo, é dedicado a celebrar o mistério pascal de Cristo, ao descanso, à família e à solidariedade. Neste dia, de modo especial, queremos antecipar as realidades esperadas para a eternidade, dentre elas o descanso. E outras ocasiões, especialmente as justas merecidas férias, são oportunidades preciosas para um adequado repouso, que nos dê condições para rezar melhor, louvar a Deus e querer e fazer o bem, no amor ao próximo. É sabido que pessoas agitadas e cansadas acabam dando guarida em seu interior a sentimentos destinados a transformá-las em presenças agressivas em suas famílias e na sociedade.
        
"A ligação entre o dia do Senhor e o dia do descanso na sociedade civil tem uma importância e um significado que ultrapassam o horizonte propriamente cristão. De fato, a alternância de trabalho e descanso, inscrita na natureza humana, foi querida pelo próprio Deus, como se deduz do texto da criação no livro do Gênesis (cf. 2,2-3; Ex 20,8-11): o repouso é coisa sagrada, constituindo a condição necessária para o homem se subtrair ao ciclo, por vezes excessivamente absorvente, dos afazeres terrenos e retomar consciência de que tudo é obra de Deus. O poder sobre a criação, que Deus concede ao homem, é tão prodigioso que este corre o risco de esquecer-se que Deus é o Criador, de quem tudo depende. Este reconhecimento é ainda mais urgente na nossa época, porque a ciência e a técnica aumentaram incrivelmente o poder que o homem exerce através do seu trabalho. Importa não perder de vista que o trabalho é, ainda no nosso tempo, uma dura escravidão para muitos, seja por causa das condições miseráveis em que é efetuado e dos horários impostos, especialmente nas regiões mais pobres do mundo, seja por subsistirem, mesmo nas sociedades economicamente mais desenvolvidas, demasiados casos de injustiça e exploração do homem pelo homem.
Quando a Igreja, ao longo dos séculos, legislou sobre o descanso dominical, teve em consideração sobretudo o trabalho dos operários, certamente não porque este fosse um trabalho menos digno relativamente às exigências espirituais da prática dominical, mas porque mais carente duma regulamentação que aliviasse o seu peso e permitisse a todos santificarem o dia do Senhor. Nesta linha, Leão XIII, na Encíclica Rerum Novarum apontava o descanso festivo como um direito do trabalhador, que o Estado deve garantir" (João Paulo II, Carta Apostólica Dies Domini n. 65-66).
Muitos de nós falham com os próprios deveres quando não vivem o domingo em suas diversas dimensões e quando não se dedicam ao necessário descanso. Sim, é pecar contra a lei de Deus não descansar! Queremos entrar numa escola de repouso, descanso, férias! Outros não sabem descansar. O descanso, para não se tornar vazio nem fonte de tédio, deve gerar enriquecimento espiritual, maior liberdade, possibilidade de contemplação e comunhão fraterna. Os fiéis hão de escolher, de entre os meios da cultura humana e as diversões que a sociedade proporciona, aqueles que estão mais de acordo com uma vida segundo os preceitos do Evangelho (Cf. Dies Domini 68).
A volta para casa, num final de domingo, assim como o retorno de um período de férias em nossas magníficas praias nunca sejam marcados pelo remorso suscitado pela entrega aos vícios, nem pelos acidentes de trânsito, mas cheios de alegria e disposição. Há uma grande tarefa a ser vivida pelos cristãos e pela Igreja, no meio da sociedade, onde nos cabe defender o primado absoluto de Deus e também a primazia e a dignidade da pessoa humana sobre as exigências da vida social e econômica, antecipando de certo modo os novos céus e a nova terra, onde a liberdade será definitiva e total (Cf. Dies Domini 68), na oração, no louvor, no amor e no descanso.

Dom Alberto Taveira
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

Por que acumular riquezas?

A virtude da partilha é fruto de prática fraterna e cristã
A vida deve ser marcada por opções firmes e cumuladas de segurança verdadeira. Isso supõe constantes revisões no atual modo de pensar e de agir. A segurança não pode se apoiar apenas em bens de cunho material. Numa cultura eminentemente capitalista e consumista, não é fácil o despojamento do que é desnecessário, a qual favorece um acúmulo desregrado e sem função social.
A virtude da partilha é fruto de prática fraterna e cristã.
O desapego conduz a uma sadia liberdade e a atitudes de sabedoria divina. A vida não depende da abundância dos bens materiais. Ela pode até ser sacrificada na sua identidade por opções insensatas e pelo acúmulo desnecessário.
A fortuna da pessoa não está nos bens puramente materiais, mas na qualidade da sua vida, sem ilusão e segura no que lhe dá verdadeira firmeza. Isso vai além de si mesma na abertura para ajudar os totalmente desprovidos.
Há um texto bíblico que diz: “Ainda nesta noite, tua vida te será tirada. E para quem ficará o que acumulaste?” (Lc 12, 20). O importante, na verdade, é tornar-se rico diante de Deus.
A verdadeira riqueza tem dimensão espiritual, de partilha, de comunhão e de solidariedade. A vida tem uma transitoriedade, mas com possibilidade de transcendência, concretizada no amor eterno.
Desapego das coisas da terra não significa ter uma vida alienada, sem compromisso temporal, mas preocupada com a justiça social. É assumir os valores reais que causam verdadeira felicidade.
Somos chamados a uma nova maneira de pensar e de agir, especialmente nos libertando da ganância incontrolada. Temos de nos acercar dos bens terrenos, necessários para a vida, mas com sabedoria.
Tudo deve estar a serviço da humanidade. É contrassenso ser escravo das riquezas terrenas. A economia tem sentido quando colocada a serviço da vida. Do contrário, ela causa exclusão e pobreza. Somos insensatos ou sábios? Assumimos um humanismo novo, ao encontro de nós mesmos, com valores superiores de amor e de amizade? Só assim poderemos passar de condições menos humanas para mais humanas.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto

Domingo, 22 de Agosto - 21º Domingo Comum

Evangelho (Lucas 13,22-30)


— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo, + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo,
22Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. 23Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?”
Jesus respondeu: 24“Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. 25Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’
Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’.
26Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’
27Ele, porém, responderá: “Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós, que praticais a injustiça!’
28Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora. 29Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. 30E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”.



- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.