quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DICAS DE PORTUGUÊS: Há e havia: uma questão de aspecto

Thaís Nicoleti,UOL EDUCAÇÃO
O verbo “haver”, na sua forma impessoal, pode exprimir a passagem do tempo. É por isso que dizemos, por exemplo, que algum fato ocorreu há dez anos (não “a dez anos”).
É o verbo “haver”, não a preposição “a”, que indica tempo decorrido.
Esse não é, entretanto, o único problema relacionado ao emprego do verbo “haver”na expressão de tempo decorrido. O tempo do verbo pode exprimir diferentes nuances de significado.
A forma “há”, do presente do indicativo, preserva o aspecto pontual da ação, ou seja, ao dizermos que algo ocorreu há dez anos, informamos que essa ocorrência se deu dez anos antes do momento em que se fala.
Se, porém, empregarmos a forma “havia”, de pretérito imperfeito do indicativo, conferiremos à ação o aspecto durativo, próprio desse tempo verbal. Ao dizermos que “o gás vazava havia dois dias”, informamos que a ação de vazar durou dois dias, ou seja, o gás vazou durante dois dias. Normalmente, a forma “havia” aparece nas orações cujo verbo também está no pretérito imperfeito do indicativo (“vazava havia dois dias”).
Dito isso, observemos o que ocorre no fragmento abaixo:
“Na Alemanha, os democratas-cristãos de Angela Merkel perderam a riquíssima região de Baden-Württemberg para os verdes e sociais-democratas. Isso não é uma derrota. É uma hecatombe: os democratas-cristãos governavam o reduto há seis décadas.”
Dizer que os democratas-cristãos governavam o reduto seis décadas equivale a dizer que, há 60 anos, contados a partir de hoje, eram os democratas-cristãos que governavam o local. Ocorre, porém, que o contexto nos permite compreender que a ideia era outra. A “hecatombe” a que se refere o autor só se explica pelo fato de os democratas-cristãos terem permanecido no poder durante os 60 anos anteriores. Verifica-se, portanto, que a forma verbal adequada seria “havia”, não há”, nesse contexto. Veja, a seguir, o texto reformulado:
Na Alemanha, os democratas-cristãos de Angela Merkel perderam a riquíssima região de Baden-Württemberg para os verdes e sociais-democratas. Isso não é uma derrota. É uma hecatombe: os democratas-cristãos governavam o reduto havia seis décadas.

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