quinta-feira, 14 de julho de 2011

Modelo lulista de crescimento pode estar chegando ao limite, diz FT

O modelo de crescimento econômico brasileiro estabelecido no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) pode estar chegando ao seu limite, segundo adverte reportagem publicada nesta quarta-feira pelo diário econômico britânico Financial Times.

\"Mesmo com o Lulismo sendo enaltecido pela América Latina como uma possível solução para os problemas centenários de desigualdade e crescimento atrofiado no continente, há temores de que ele está chegando ao seu limite no Brasil\", afirma o jornal.


O \'lulismo\' é definido pela reportagem como o modelo que combinou a concessão de benefícios sociais, aumentos salariais generosos, fácil acesso ao crédito e a manutenção de uma economia estável. \"É um modelo ao qual se atribui a retirada de 33 milhões da pobreza durante seus oito anos de governo\", diz a reportagem.


O jornal observa que, assim como a China e a Índia, o Brasil cresceu na última década para se tornar uma importante força global, mas assim como os dois países asiáticos, \"também mostra sinais de superaquecimento\".


A reportagem lista sinais de alerta levantados por analistas, como o risco de uma bolha de crédito, a baixa taxa de investimentos, o fortalecimento do real ou a forte dependência da exportação de commodities a cotações elevadas, mas comenta que há também \"vozes mais otimistas que rejeitam tais previsões\".


Sucesso inquestionável

Para o jornal, \"ninguém questiona o sucesso de Lula\", que também contou com a sorte durante seu governo para entregar o país crescendo a 7,5% à sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff.

A reportagem comenta, porém, que \"Lula também entregou a Dilma uma economia fragilizada por desequilíbrios\", como o crescimento acelerado das importações, financiadas pelo fluxo de divisas gerado pela venda de commodities ao exterior a preços inflados.


Outro problema apontado é o risco de inflação, controlado por meio do aumento das taxas de juros, que por sua vez ajudam a pressionar pela valorização da moeda brasileira, reduzindo a competitividade da indústria nacional.


O jornal observa que \"parte da inflação vem do crescimento rápido do crédito, particularmente empréstimos ao consumidor\" e comenta que há análises divergentes sobre o risco do estouro de uma bolha de crédito no Brasil.


Segundo a reportagem, economistas sugerem que para compensar a perda de ímpeto do crescimento do crédito ao consumidor, o Brasil \"deve aumentar os investimentos em infraestrutura e em educação para aliviar os gargalos em logística e aumentar a produtividade\".


Apesar da previsão de investimentos da ordem de bilhões de dólares em infraestrutura por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o jornal diz que \"os progressos até agora têm sido lentos\".


A reportagem comenta ainda que a melhor maneira de financiar os investimentos é aumentando a eficiência do setor público, que se expandiu durante os dois governos Lula para chegar a um tamanho equivalente ao verificado nas economias avançadas, mas sem o mesmo nível de produtividade.


A necessidade de reformas no sistema de previdência e nas leis trabalhistas, porém, parecem pouco prováveis, segundo o jornal, por causa das dificuldades políticas em controlar uma coalizão governista com dez partidos.


\'Milagre intacto\'

Apesar de todos os sinais de alerta, o jornal observa que \"o milagre econômico brasileiro parece intacto por ora\".

\"Espera-se um crescimento a respeitáveis 4% neste ano, igualando a média durante os governos de Lula\", comenta o jornal.


Para a reportagem, com a perspectiva de receber a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, o Brasil \"raramente teve uma chance melhor de se livrar do clichê de ser \'o país do futuro que será sempre o país do futuro\'\".


\"Mas o governo de Dilma terá antes que mostrar como planeja aumentar o investimento e ao mesmo tempo reduzir a dependência da economia dos preços voláteis das commodities e de consumidores sobrecarregados\", diz.


Fonte: UOL

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