sábado, 3 de julho de 2010

Eles passarão. Eu passarinho.


Antes, bem antes, havia uma certeza. Se o Brasil fosse campeão, o provável sentimento seria o da vingança. Se não fosse, o rancor e a caça às bruxas dominariam as manchetes.
Relações esfaceladas e agressões gratuitas. Comissão técnica e torcida dunguista versus imprensa e torcida anti-dunguista. No meio disso tudo, os jogadores. Pragmaticamente passivos e cordiais, preferiram não incendiar os oponentes. Não reclamaram dos métodos draconianos de Dunga, muito menos entraram na briga contra boa parte dos jornalistas. Foram dignos na derrota. Não fugiram das entrevistas. Nem mesmo o Judas Felipe Melo. Dele, ouvimos uma declaração comovente. “Não é fácil ligar para o teu filho e ouvi-lo chorar”. De Michel Bastos, que também não rendeu o que sabe, a frase-símbolo da desgraça social brasileira, onde só o futebol permite a ascensão financeira completa: “É triste, porque eu cheguei até aqui vindo do nada e sair desta forma”. Ainda bem que o povo anda mais maduro.
A cada década que passa, choramos as lágrimas necessárias. Sem o exagero em preto-e-branco de 1950, o luto eterno por 1982, o castigo injusto a Zico em 1986… Na final de 98, aprendemos a aplaudir Zidane. Aprendemos tanto que aplaudimos novamente em 2006.
E chegou 2010. Dois de julho de 2010.
O Brasil saiu da Copa, mas amanhã, por incrível que pareça, lá está o sol novamente iluminando o caminho de milhões de trabalhadores que precisam bater o ponto para sustentar milhões de famílias. A Seleção perdeu. Mas o Brasil ganhou um cadinho mais de maturidade. Vamos xingar, vamos reclamar, vamos culpar, vamos desculpar… mas vamos também continuar a assistir à copa. Quase cinco horas depois da montanha laranja festejar, o pranto verde-amarelo já secara. E a tristeza era senhora em Gana. Derrota muito mais terrível do que a nossa. Cruel, horrorosa, catártica.
Passou o Uruguai. Em busca do tri. Passou a Holanda, em busca da primeira estrela na camisa. Passou Dunga pela Seleção. Passaram Kaká, Robinho, Luis Fabiano, Júlio Batista. Passou um filme na cabeça de muita gente. Tudo passa.
 E, em algum lugar, Mário Quintana repete: “Eles passarão, eu passarinho.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário