quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Crise na vocação sacerdotal não é culpa do celibato


O celibato, um carisma e um mistério a ser decifrado e decodificado, salienta o Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, Dom Pedro Brito Guimarães.

Para o Arcebispo de Palmas (TO), ser celibatário é uma graça que quando acolhida e vivida se multiplica. “Todo dom exige uma resposta, que eu chamaria de contra-dom. O melhor da graça é a ação de graça", destaca.

E em resposta às críticas quanto dizem que o celibato mais atrapalharia do que ajudaria a vida da Igreja, Dom Pedro reforça que existem outros fatores que contribuem para a crise das vocações sacerdotais e que atribuir tudo ao celibato é “desconhecer os outros mecanismos que fazem a cabeça das famílias e da juventude e movem a sociedade como um todo”.

Dom Pedro foi um dos palestrantes do Simpósio Nacional O dom do celibato na vida e na missão da Igreja*, concluido nesta quarta-feira, 23, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Confira a entrevista exclusiva de Dom Pedro ao noticias.cancaonova.com.

noticias.cancaonova.com - Os ministérios ordenados e a vida consagrada possuem como característica marcante a vivência do dom do celibato. Que relevância esse assume no mundo contemporâneo?

Dom Pedro Brito Guimarães - O celibato é realmente uma característica marcante da vida e da missão do ministro ordenado e das pessoas de vida consagrada. O celibato é realmente um dom, um carisma e um mistério a ser decifrado e decodificado. Dom significa dizer que ele não me pertence, que me é dado, doado e por mim recebido gratuitamente. Dom nos remete a Deus, doador de todos os dons e bens da salvação.

Somente Deus tem um dom como este, tão absoluto e radical, para doar a quem Ele escolhe, para estar com Ele, e o enviar em missão. Ser celibatário é uma graça e uma vocação. Por isto só vive bem o celibato quem é agraciado com este dom, carisma, mistério e ministério.

No entanto, para o sacerdote ministerial é também uma norma canônica, enquanto que para as pessoas de vida consagrada é um voto, um dos três conselhos evangélicos. Isto faz a diferença do dom do celibato para o ministro ordenado e a pessoa de vida consagrada.

noticias.cancaonova.com - Há uma ideia propagada de que o celibato mais atrapalharia do que ajudaria a vida da Igreja, como no que diz respeito ao número de vocações e à vida afetivo-sexual dos consagrados. Nessa perspectiva, por que o celibato é defendido como um dom? Como ressaltar esse aspecto?

Dom Pedro - Não sei quem é o autor desta idéia. Sei apenas que ela é muito difusa e serve de pretexto e justificativa. Esta é uma tese que por si só não se sustenta. E onde o celibato não é obrigatório, o que justifica a carência de ministério ordenado? Existem outros fatores que contribuem em muito para a crise das vocações sacerdotais.

Certamente o celibato é um desses fatores. Mas não pode ser o bode expiatório. Não o único nem o maior e nem ainda o mais importante. A crise porque passam as vocações é uma crise de sentido da vida, de falta de doação, de espírito de serviço e vivência do evangelho. Atribuir tudo ao celibato é desconhecer os outros mecanismos que fazem a cabeça das famílias e da juventude e movem a sociedade como um todo. 

Confesso que gostaria de saber o porquê, assim eu iria atrás da solução. Em poucas palavras, a crise vocacional para o celibato é crise sócio-cultural e pró-existencial, trazida pela mudança de época. Acho que a chave está aqui.


noticias.cancaonova.com - No que diz respeito ao celibato, ele é um dom mas, ao mesmo tempo, algo que se aprende. Como os consagrados podem viver um processo de formação permanente neste sentido? De que forma a Igreja no Brasil trabalha ou pensa em trabalhar com essa temática?

Dom Pedro - Todo dom exige uma resposta, que eu chamaria de contra-dom. O melhor da graça é a ação de graça. O melhor do dom é a capacidade de pô-lo em prática e de vê-lo multiplicado. Cairia bem aqui uma reflexão sobre as parábolas dos talentos (Mt 25,14-30) e das moedas de prata (Lc 19,11-28). Tudo é aprendizagem. Somos todos aprendizes, na vida e na história, na Igreja e na sociedade, inclusive do celibato.

Ninguém nasce sabendo: se aprende a falar, falando, caminhar, caminhando, nadar, nadando... Com o celibato não é diferente. Nascemos celibatários, mas temos que a prender a ser e a viver o celibato. Aprendemos a ser celibatário sendo, vivendo, se formando, se informando, se doando, com e como Jesus e na sua escola.

O testemunho de pessoas sadias, santas, maduras, pró-existentes, equilibradas, realizadas, ajuda muito nesta escola vivencial. Mas requer também dedicação, curtição, investimento, empenho, estudo, formação da mente, do coração e da alma. 
 
Fonte: cancaonova.com

A superação de nossos problemas

Diante dos inesperados acontecimentos que surgem em nossas relações, aprendemos que, somente a partir deles, vamos crescer e amadurecer dentro de nossos relacionamentos.

É bom saber que crise alguma dura para sempre, tampouco é inédita. E para o nosso conforto, de alguma forma, sempre haverá perto de nós alguém que já tenha vivido uma história tão delicada quanto a nossa e, que tendo enfrentado situações semelhantes, apesar de toda dificuldade, naquele momento conseguiu encontrar soluções alternativas, fazendo dessa experiência uma lição de vida.

Assim, para aqueles que estão envoltos nos ventos das adversidades, fica a certeza de que também será possível vencê-las tomando como estímulo a história de superação de outras pessoas que passaram por provações. Isso não significa que os procedimentos que alguém tenha tomado para resolver um impasse seja exatamente o que precisaremos fazer.

As pessoas são diferentes, trazem hábitos e comportamentos próprios, dessa forma, aquelas atitudes que foram assumidas por outras pessoas poderão nos servir apenas como pistas para as alternativas que podemos optar diante do nosso problema. Contudo, conhecer outras histórias de superação nos enche da certeza de que também seremos capazes de vencer nossos obstáculos e dilemas que, por ora, enfrentamos nos desafios da nossa convivência.

Para essa retomada da esperança diante das adversidades, basta recobrar outros momentos de nossa história, quando, naquela ocasião, determinado problema nos parecia também não ter solução. Se as crises financeiras que atingiram alguns países os fizeram fortes após uma nova atitude e investidas para sair dos problemas; o mesmo acontece em nossas vidas, quando nos colocamos dispostos a viver o resgate dos laços dos nossos relacionamentos.

Lembremo-nos de alguns impasses que foram superados há 2 ou 3 anos… Quem sabe não encontremos outros que tenham sido recentemente superados. Para todos eles a solução comum para o problema foi a descoberta de que a resposta estava simplesmente no desejo de recomeçar.

Todas essas fases foram vencidas e, hoje, essas histórias fazem parte de mais um capítulo que vai compor o nosso filme autobiográfico das “causas superadas”. Talvez, no futuro, poucas pessoas venham a se interessar em assistir o nosso “filme”, mas as lembranças dos acontecimentos, os quais um dia foram superados, não permitirão que o desânimo nos faça desistir do propósito de viver um “longa-metragem” com quem escolhemos contracenar nesta vida.

Um abraço!
Dado Moura