A misericórdia é uma realidade de que todos necessitamos, a qual somos convidados a exercer cotidianamente. Em virtude da fragilidade que nos configura – por ora desfigurando… – como parte do que somos, a misericórdia precisará ser sempre nossa companheira de viagem.
Ninguém é perfeito e ninguém consegue ser bom em tudo. Muitas vezes, não seremos coerentes com o que somos e cremos, e acabaremos errando com os outros e com nós mesmos.
Isto é fato: a contradição sempre nos perseguirá em nosso caminho de vida. Por isso, seremos melhores e mais completos não quando não errarmos mais – vivendo como anjos –, mas quando apreendermos a acrescentar, no dia a dia de nosso vocabulário, as palavras "perdão" e "misericórdia".
Sempre acabaremos errando em alguma coisa, e para vivermos com qualidade, precisaremos cotidianamente pedir perdão: a Deus, aos outros e a nós mesmos. Sem a humildade, que nos faz conhecer a nossa não onipotência diante do mundo, nunca cresceremos realmente, pois nos tornaremos escravos do orgulho, que nos faz acreditar que o problema está sempre fora de nós (no outro).
Constantemente teremos que ceder e perdoar: em casa, no trabalho, no passeio, em meios aos desafios da família e do matrimônio. Inúmeras vezes também precisaremos pedir perdão, reconhecendo que não fomos capazes de acertar e que precisamos de uma nova chance.
E diga-se de passagem, essa última é uma forma muito eficaz para compreendermos a misericórdia, pois quando podemos abandonar nossa impotência em seus braços, recebendo dela uma nova chance para acontecer, entendemos, de fato, o que significa a sua essência.
Quem precisou ser perdoado, fazendo a experiência da própria indigência e fraqueza, terá muito mais facilidade para compreender e perdoar alguém. Nesse aspecto a experiência de nossos pecados muito nos ajuda a entender que não devemos ser os juízes das fraquezas alheias, mas sim constantemente acreditar nos outros oferecendo-lhes uma perene chance para o recomeço.
Não são os "perfeitos" que se tornam grandes na vida – a grandeza destes é apenas aparente –, mas os que aprendem a recomeçar todos os dias, exercendo a misericórdia consigo e com os outros.
Quem não aceita a própria finitude e imperfeição nunca se permitirá aprender com a parcela de ensinamento que só o erro pode acrescentar e acabará por determinar a si insuportáveis punições, como uma infeliz paga para a fraqueza que se manifestou destruindo a irreal “imagem” que nutria sobre si mesmo.
Precisamos de misericórdia – de uma nova chance e crédito – e precisamos exercê-la constantemente, isso tornará nossa existência menos pesada e nos fará entender a vida com a beleza de quem tem sempre algo a aprender. Abandonemo-nos em seus ternos braços!
Diácono Adriano Zandoná