Buscamos juntos os caminhos para
a presença cristã num mundo pluralista, desafiador e ao mesmo tempo
maravilhoso, até porque não o recebemos pronto. Faz parte do amor eterno
com que Deus nos criou que cada geração assuma de novo a tarefa de
“dominar a terra” (Cf. Gn 1, 26-31). Nossos antepassados deram conta de
suas responsabilidades e somos gratos pela contribuição que ofereceram,
mas o tempo que temos é o de hoje e nós somos “a bola da vez”.
O
Senhor provoca cada pessoa a um compromisso com a edificação do mundo,
tecendo a teia de relacionamentos com a natureza, o próximo e com o
próprio Deus. Todos nós recebemos uma bateria de dons e capacidades que
nos dão condições para marcar com nosso selo pessoal a realidade em que
vivemos. Identificar os dons pessoais, acolhê-los e fazê-los frutificar!
Este é o primeiro passo.
O Papa Bento XVI afirmou, há poucos dias em Madri, que o
seguimento de Jesus Cristo se faz em comunidade de Igreja. Pois bem, as
pessoas com as quais convivemos são instrumentos de Deus para que
nossos dons se revelem. Quem já sentiu um apelo vindo de sua comunidade,
chamando a servir e a promover o bem comum deve ter percebido que esta é
uma das fontes mais significativas de realização humana. Tarefas
assumidas, de acordo com as necessidades de uma comunidade concreta,
despertam capacidades impensadas anteriormente. Aprende-se a fazer por
causa do chamado de Deus feito pelas pessoas. E muitos descobriram assim
seu modo de fazer o bem, especialmente pelos mais pobres. Olhar ao
nosso redor e escutar os clamores das pessoas e não fugir da raia, pois
há um lugar para cada um de nós.
Há outro e não menos importante espaço para identificar
o bem que se pode fazer. É lá dentro de nosso coração, quando entramos
em nosso “quarto” interior que Deus fala. Há um trato de “tu a tu” com o
qual Deus olha em nossos olhos e chama. Estranha-me saber que muitos
nunca chegaram a entrar nesse quarto interior. Todas as pessoas humanas
foram criadas para a intimidade com o Senhor, sem exceção. Não existe
uma categoria inferior de cristãos, à qual não se desse as pérolas do
Evangelho.
Dons que o Senhor confiou, apelos das pessoas,
inspiração interior. São as fontes para todos os cristãos, independente
de idade ou estado de vida, haurirem a sabedoria necessária para viverem
sua vocação. Sim, existe um olhar especial de Deus para cada pessoa,
expressão de Seu amor. Se cada cristão se descobrir missionário, teremos
uma imensa multidão de homens e mulheres presentes na sociedade e no
mundo, conduzidos todos pelo Espírito Santo, transformando nossa
realidade, fermentando-a com os valores do Evangelho. Neste final de
semana, intensamente vocacional em nossa Igreja de Belém, com a Feira
Vocacional e o Show Vocacional, o Senhor nos conceda a resposta generosa
de muitas pessoas a trabalharem pelo Evangelho e pela Igreja.
Em Madri, a Jornada Mundial da Juventude se transformou
num grande chamado vocacional. Os jovens ali presentes, de cento e
noventa e quatro países, receberam a cruz e o mandato missionário,
acolhendo o convite do Sucessor de Pedro. Era maravilhoso ver as ruas da
capital espanhola, num país de forte tradição católica, quase
envergonhado nos últimos tempos de suas raízes cristãs, regadas pelo
sorriso, pela disponibilidade e pela coragem da juventude.
Os
jovens deram um verdadeiro banho de vida espiritual que se estendeu aos
confins da terra. Na Vigília vivida com o Papa, depois de uma tempestade
que assustou a todos, era positivamente chocante ver um mar de silêncio
que se estendia quando o Santíssimo Sacramento foi exposto. Ninguém
precisou dizer àquela juventude maravilhosa que se calasse. O rumor das
aclamações transformou-se em adoração! Sim, a segurança que encontramos
para confiar no futuro está no alto, no céu que se faz presente no
Altar. Para lá nossos jovens querem olhar e de Jesus nascerão novos
apóstolos para novos tempos. A luz se faz presente!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA